segunda-feira, junho 01, 2009

Males da Educação 2

Um em cada 4 alunos teve um "Plano de Recuperação" na Primária (vulgo 1º ciclo). Tudo para combater os chumbos e o abandono escolar.
Mas será que está tudo tão diferente que 25 % das crianças em Portugal não conseguem aprender o que é suposto em 4 anos sem a "almofadinha do Plano de Recuperação"?
O que é que mudou?
Entre muitas coisas ( aceitam-se contributos):
  • A noção de que a escola implica esforço.
  • A missão da Escola ( agora tem de se ensinar a ler, escrever, contar, mais uns rudimentos de História, Geografia e Ciências tal como antes; mas ainda, expressões, inglês, informática, formação cívica, música, ginástica e mais umas botas). E ainda apoio psicológico, social e de integração.
  • As vocações. Dantes ia para Professor quem gostava. Agora vai quem quer a miragem do "emprego para a vida". Sem filtros como noutros países - que incluem entrevistas e avaliações" - cai nesta profissão de tudo um pouco. Resultados à vista.
  • A disciplina. No espaço de uma aula é preciso sentá-los, mantê-los atentos, cooperantes, acudir a 25 ritmos e necessidades diferentes por sala e ainda, claro, ensinar. Se isto já era difícil quando os Professores tinham autoridade, imagine-se agora, quando anos de desvario no Ministério da Educação os tornaram no bombo da festa a abater.

Imaginem o vosso ambiente de trabalho sem rei nem roque, onde cada um faz o que lhe dá na real gana. Depois transportem isso para milhares de salas de aula e percebam como será ensinar uma conta de dividir a crianças que olham pela janela, que foram à casa de banho e se perdem pelo caminho, que têm hiperactividade, síndromes de Asperger, autismo e que estão ali no "ensino inclusivo" a fazer de conta que são como as outras quando não são. O tempo para ensinar é o mesmo, os objectivos a atingir são os mesmos, mas a realidade mudou: não há milagres.

Para fazer uma conta de dividir, as crianças ( as minhas, as suas, as crianças que estudam em Portugal) têm de saber onde colocar os números, mentalmente rever a tabuada para encontrar os algarismos do quociente, efectuar a multiplicação de cabeça, subtrair mentalmente, baixar o algarismo seguinte, repetir os passos até chegar ao resultado final. Difícil não é? Pois é, sobretudo perante uma multidão que garante que aquilo não serve para nada e quando uma sociedade inteira, uma época inteira premeia a chico espertice, a corrupção, a cunha e a ausência de mérito. Esforço para quê?

  • A formação dos professores. do antigo Magistério passou-se à febre das Ciências da Educação nas ESES. Já repararam que no ensino privado a maioria das professoras do 1º ciclo é da velha guarda? Será coincidência?
  • A ausência de rotinas. Não há rotinas na Educação desde 74. Tudo muda ano a ano. O nome das disciplinas, os programas. As regras ( até há pouco tempo entrava-se numa Escola Superior de Educação com média de 2 valores... e num curso de Engenharia sem Matemática no Secundário), os manuais, os professores eternamente de mala às costas em nome da "igualdade à força", o regime de habilitações. Não é por acaso que as escolas públicas de sucesso têm um corpo docente estável. A forma de transitar de ano, as regras do acesso ao superior, tudo muda menos o descontentamento que é geral...

Cansados? Com razão. Mas exausto está o país que olha de braços caídos gerações trituradas nesta máquina de produzir portugueses ignorantes.

O mesmo país que irá novamente este ano votar em mais do mesmo.

Oremos.

1 Comments:

Blogger Manolo Heredia said...

O paradigma à volta da missão do Ensino em Portugal mudou muito nos últimos 30 anos, devido às alterações políticas ocorridos após o 25/04/75 que induziram novos conceitos de liberdade / autoridade em todas as áreas de convivência social, em especial nos mundos do trabalho e da escola. A massificação do acesso ao Ensino, que já tinha dado origem à Reforma de Veiga Simão (ainda no tempo da “Outra Senhora”) conduziu à necessidade de recrutamento maciço de professores, muitos deles sem vocação para a profissão e ou sem formação adequada. Durante muitos anos os licenciados iam para professores “à falta de melhor profissão”. Não era aquilo que queriam para a sua vida, mas… não tinham outra “saída”.
Este panorama, conjugado com a perda de autoridade dentro da sala de aula, induzida pelos valores propalados fora da escola, aonde muitas vezes se confundia liberdade com desresponsabilidade ou porque as escolas passassem a ser palco de lutas partidárias no seu interior, aonde cada um pretendia implementar a sua ideia daquilo que deveria ser O Ensino, chegou-se ao estado actual, em que ninguém gosta do que tem mas também ninguém sabe como deveria ser. Porque não há um consenso Nacional sobre a Missão do Ensino Público em Portugal, que é a base necessária para a definição lógica da missão dos agentes desse ensino.
Não havendo esse consenso, cada partido, faz aquilo que acha melhor quando está no poder, vindo a seguir outro partido desfazer o que este fez e repor os seus próprios conceitos. A tentação de quase todos os partidos é de baixar custos, optando pela lógica de “quem quer ensino de qualidade que o pague”, à semelhança do que acontece com a Saúde, a Justiça, a Segurança. Isto é, relativamente a todas as funções que eram da responsabilidade do Estado tradicionalmente. Menos Estado, Liberalismo.
O que a Ministra quer é baixar os custos do Ministério, o que os professores querem é não perder os privilégios que adquiriram no processo atrás descrito. À tão simples como isto!
Nenhuma reforma do ensino terá sucesso enquanto não existir um Pacto de Regime (como se usa dizer agora) que defina a Missão do Ensino Público. É a partir dessa definição que se definem os Objectivos do Ensino (as metas a atingir) e a partir destes os Meios Necessários, e a partir destes o Orçamento do Ministério. Até agora tudo tem sido feito ao contrário, anda o carro afrente dos bois!

11:12 da manhã, julho 11, 2009  

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