As regras da Educação
Num cenário idílico de fundos disponíveis, governos sensatos e políticas adequadas para a Educação, parece-me que há um pauzinho na engrenagem de que ninguém fala e que é a motivação dos professores, ou seja, não haverá mudança nas escolas se os professores efectiva e convictamente não aderirem à idéia de que algumas das práticas "antigas" como decorar a tabuada e aprender a acentuar o "à" - para não falar em coisas terríveis como resolver problemas ou até fazer uma pesquisa com pés e cabeça - são absolutamente necessárias, e não haverá director de escola, ou reforma, ou incentivo que nos valha.
Em Extensão Rural, na Universidade, ensinaram-me que os agricultores são muito avessos à mudança - envelhecidos, ignorantes e pobres, a segurança do que já conhecem é um verdadeiro salva-vidas; então quando era preciso introduzir uma inovação tecnológica a única forma de os convencer era fazer um campo de ensaio - em que num lado plantavam o milho de maneira tradicional e no outro de forma inovadora; quando o "milho moderno" desatava a crescer por ali acima, de repente como S. Tomé, todos acreditavam no valor da inovação - fosse ela sementes híbridas, maneio, aditivos ou controle biológico de pragas... E depois era muito mais fácil fazer reformas. Eu também vi - com estes dois que a terra há-de comer... - os campos de ensaio a funcionar em Trás-os-Montes, antes de a Comunidade Europeia dizer aos nossos agricultores que nasceram no século e no país errados...
Vem isto a propósito da necessidade - deve ser uma idéia peregrina porque afinal ninguém fala disto - de demonstrar que algumas práticas do antigamente são boas para a Educação; em milhentas conversas que tive com professores ou pessoas ligadas ao Ensino a conversa acabava sempre de forma abrupta quando eu defendia que saber a tabuada de cor libertava as crianças porque em vez de estarem titubeantes a tentar encontrar o resultado de 2 x 3 estavam com o 6 adquirido e libertos para raciocinar o passo seguinte; mas não dominando eu o eduquês matavam-me logo com longas dissertações acerca do processo "ensino-aprendizagem", os métodos traumatizantes, etc, etc.
Eu tinha a sensação, quando comecei a dar aulas em 92, que o mundo que se retratava nas escolas era uma realidade paralela - tipo alegoria da caverna - mas agora tenho a certeza que o bom senso é uma coisa de tal forma arredada pelo novo riquismo do eduquês que a minha filha - que vai fazer 6 anos em Abril- está inscrita simultaneamente numa escola primária oficial e num colégio religioso; se lhe calhar em má sorte uma professora novinha das ESES, mudo-a para o colégio das freiras - onde eu própria estudei e expiei os pecados da condição humana - aceitando que a pesada carga da injecção clerical será um mal menor, face ao horror de ter a minha fillha durante quatro anos a tentar juntar sílabas.
Se lhe calhar uma professora das boas - à antiga - vou achar que continuo a ter uma estrelinha de sorte lá em cima, naquele sítio para onde o Sagan começou a olhar em criança e que trouxe para mais perto de nós, porque afinal, lá onde ele estudou, ainda há regras, como antigamente...
3 Comments:
Óspois queixa-te se a Matilde quiser vestir hábito.
Fritz
boa malha, cumadre, boa malha...
Acho que o essencial é saírmos da faculdade com espírito crítico. Tive óptimos professores durante o biénio em Formação Educacional, mas também tive professores com os quais não aprendi absolutamente nada de válido. Nem todas as mariquices que se aprendem nas cadeiras pedagógicas são úteis. Concordo contigo quando dizes que alguns métodos usados há muitos anos funcionam melhor que muitos métodos novos. E penso que os professores de que te queixas são em parte esses que, em tantos anos de estudo e ensino superior, não souberam adquirir espírito crítico para reconhecerem e se distanciarem das más práticas no ensino ensinadas na faculdade.
Cumprimentos blogosféricos, xôra Aurora!
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