sexta-feira, abril 01, 2005

Gente

Sobrevoando o planeta a pouca altura veríamos terras devastadas pela terra que tremeu. Gente aflita, esfusiante, crianças a nascer num halo de vida, velhos agonizantes.

Zonas áridas e verdejantes com chuvas de monção e sol inclemente.

Veríamos construções desafiadoras e a decadência das coisas que o homem faz e o tempo desfaz.

E veríamos milhões de pessoas opacas, cegas pela brutidão da vida.

Muitas delas aflitas com a agonia mediática de mais um velho que cumpre o ciclo da vida: o Papa que morre.

A supremacia de uma história com 2000 mil anos nas mãos da Ciência que só tem 300 anos. E no entanto nenhuma das duas vale, contra a inexorável Natureza do que é normal ser.

O Papa não quis ir para o hospital - onde provalvelmente a obstinação terapêutica lhe prolongaria aquilo que já não tem valor - a vida.

A vida que Ramón Sanpedro também não quis:

Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos.